Voz de Elaine ecoa e júri faz justiça por seu feminicídio
NOTAS PÚBLICAS
3/17/2022


Terminou na tarde desta quinta-feira, 17 de março de 2022, o julgamento de Marcos José Bisterso, acusado pelo feminicídio de Elaine Cristina de Brito. O júri entendeu que o homem cometeu dois crimes no dia 3 de fevereiro de 2019: feminicídio por meio cruel e fraude processual, ao tentar alterar a cena do crime para simular a morte por enforcamento de Elaine, 44 anos na época. A sentença imposta foi de 19 anos de reclusão, 1 ano e 1 mês e 2 dias de detenção e 28 dias de multa.
Elaine não pos fim à própria vida, como, incansavelmente, defendia sua mãe, dona Elenita, desde a data do crime, que não teve qualquer divulgação pública na época. A voz de Elaine, mulher negra e periférica, silenciada pelas vulnerabilidades em que se encontrava e também após sua morte, finalmente se fez ouvir pelo Tribunal do Júri.
Néias observa com preocupação as tentativas (já ocorridas em júris anteriores) de associar a vítima, a partir de argumentos apresentados como “científicos”, a premissas de desequilíbrio, euforia e uso abusivo de drogas, o que teria, supostamente, contribuído para sua morte.
Contudo, a mãe de Elaine ocupou este cenário com o objetivo de repor a honra de sua filha, dmarcando outras narrativas sobre ela. “Uma mulata sadia e muito bonita” (sic), trabalhadeira, fazia “bicos” de carpinteira, manicure, pedreira e também de cuidadora de seu padrasto cadeirante. Elaine era mãe, filha, irmã, amiga, como a maioria de nós mulheres.
Assim como nos ensina a pesquisadora Patrícia Hill Collins, mulheres negras vêm sendo sistematicamente invisibilizadas e silenciadas nos últimos séculos, inclusive por discursos científicos constituídos em meio a distorções e ideologias. Tais processos se alicerçam, principalmente, na construção de determinadas “imagens” sobre elas, que as definem como personagens subalternas, selvagens, promíscuas e perigosas. Tais estereótipos vêm “justificando” que estas mulheres sejam abusadas, humilhadas, silenciadas, sofrendo violências estruturais físicas e simbólicas.
O silêncio da imprensa sobre o caso e a morosidade da Justiça, que levou mais de três anos para dar resposta à família, escancaram lógicas que estruturam a sociedade brasileira e que se apresentam de modo interseccional, ou seja, o machismo, o racismo e a desigualdade social. Elaines vêm sendo reiteradamente abusadas e assassinadas neste país. Enquanto alguma de nós estiver desprotegida, nenhuma de nós estará segura.
Queremos viver!
Elaine, presente!
Néias
Observatório de Feminicídios de Londrina
O Néias Observatório de Feminicídios Londrina (Paraná) é uma organização da sociedade civil que surgiu em 2021, após um grupo de feministas ativistas se organizarem para dar visibilidade e acompanhar o julgamento do feminicídio tentado cometido pelo marido de Néia, Cidneia Aparecida Mariano da Costa, de quem ela estava tentando se separar.
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